terça-feira, setembro 26, 2006

O PROBLEMA DAS FONTES

Num comentário à obra Vida de Aristóteles de António Pedro Mesquita (Edições Sílabo, 2006), José Pacheco Pereira escreve, no Abrupto: «(...) O que nela se aprende não é apenas sobre Aristóteles, mas também sobre a fábrica de uma biografia antiga, as fontes, os textos, os boatos, os fragmentos, as querelas de autoria e de identificação, as versões próximas ou longínquas ao original. Este aspecto, sem desmerecer a qualidade da própria biografia, ensina-nos muito sobre como se investiga a partir de uma realidade que os anos fragmentaram, dispersaram e corromperam, e isso diz-nos muito sobre o que o tempo e a história fazem a uma obra e à memória de um homem.» O mesmo problema ocorre com Egas Moniz. As fontes secundárias foram-se produzindo com base em fontes secundárias (num total despreza pela fontes primárias, quanto mais não fosse para verificar a veracidade da informação) e dessa forma fomos assistindo ao longo do tempo a uma deformação da realidade e à criação de uma imagem que serve unicamente causas sociais absolutamente perniciosos. Resolvi por isso fazer uma coisa muito simples. Peguei no maior número possível de dicionários biográficos e enciclopédias, e fui pesquisar o dizem sobre a leucotomia, a lobotomia e sobre António Egas Moniz. Este vai ser o princípio. Depois irei centrar-me na Internet. E depois nos manuais escolares. E, finalmente, num livro - Great and Desperate Cures de Elliot Valenstein - amplamente divulgado, que me parece paradigmático da forma como o erro se propaga a partir de uma fonte secundária que fragmentou, dispersou e corrompeu as fontes primárias, e passou a assumir o estatuto de fonte primária para outros livros, estudos e cursos pré e pós graduados.